A utilização de inteligência artificial foi uma das contribuições importantes para a renovação da licença de operação da usina nuclear Angra 1 por mais 20 anos. O Sistema de Vida Qualificada (SVQ), desenvolvido pelo Laboratório de Monitoração de Processos (LMP) da COPPE-UFRJ e operado pelo corpo técnico da Eletronuclear, auxiliou no processo de determinar a vida útil de equipamentos da usina.
A principal contribuição da IA foi calcular a temperatura de equipamentos elétricos e de instrumentação e controle importantes para a segurança de Angra 1, que são qualificados para executarem estas funções. É importante mencionar que a exposição ao calor é o principal fator que determina a vida qualificada destes componentes.
Como funciona
A metodologia utilizada pelo SVQ se baseia em redes neurais profundas - modelo de aprendizado utilizado por softwares inspirado na forma como o cérebro humano processa informações. Para obter esse aprendizado, o SVQ utilizou dados obtidos de sensores de temperatura instalados a partir de 2015 na usina, além de informações do histórico de temperatura ambiente do interior do edifício do reator, coletado através do Sistema Integrado de Computadores de Angra (SICA), também criado pelo LMP.
Desta maneira, com os números entre 2015 e 2020, a IA estabeleceu padrões para reproduzir dados históricos de temperatura de componentes qualificados nos anos anteriores de operação de Angra 1, período no qual os sensores ainda não estavam instalados. Isso permitiu o cálculo da vida útil dos componentes, com margem de erro de 2 graus Celsius (ºC) em 89% dos casos estudados.
Inovação tecnológica
Além de aumentar a eficiência operacional, a inovação atesta a capacidade de implementação de novas tecnologias em Angra 1, em operação comercial há 40 anos, e demonstra a experiência e o conhecimento adquirido por profissionais e pesquisadores da indústria nuclear no Brasil.
Mais sobre Angra 1
A renovação da licença operacional da usina Angra 1, obtida junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), possibilita a continuidade das operações até dezembro de 2044. A primeira usina nuclear brasileira iniciou sua operação comercial em 1985 e conta com um reator de água pressurizada (PWR), o mais utilizado no mundo.
A potência instalada é de 640 megawatts, o suficiente para suprir uma cidade com dois milhões de habitantes. Em 2023, a usina gerou 4,78 milhões de MWh, com um fator de carga de 88,24%, equivalente a 322 dias de operação em capacidade máxima por ano.